BUDDHA – Literalmente: “O Iluminado”. O mais
alto grau do conhecimento. Para chegar a ser Buddha há que se destruir
inteiramente a escravidão dos sentidos e da personalidade; adquirir uma
completa percepção do verdadeiro Eu e aprender a não separar este dos demais
eu(s); aprender também, por experiência, em primeiro lugar, a completa falta de
realidade de todos os fenômenos do Cosmos visível; chegar a um absoluto
desprendimento de todo o efêmero e finito, e viver, ainda estando na terra,
somente o imortal e eterno, num supremo estado de santidade. [Não se confunda
dita palavra com Budha].
BUDDHA-CHHÂYÁ – Literalmente, “a sombra de
Buddha”. Segundo dizem, se faz visível em certos grandes acontecimentos, assim
como durante algumas imponentes cerimônias celebradas nos templos em
comemoração dos gloriosos feitos da vida de Buddha. O viajante chinês
Hiouen-tseng, menciona certa caverna onde vez por outra aparece dita sombra na
parede, porém acrescenta que somente consegue vê-la aqueles “cuja mente é de
todo pura”.
BUDDHA-DHARMA-SANGHA – “O Buddha, a Lei, a
Ordem”. Esta fórmula é o resumo da seguinte profissão de fé dos buddhistas,
chamada Tisarana. “Eu sigo a Buddha como meu guia; sigo a Lei (ou Doutrina)
como meu guia; sigo a Ordem (ou Igreja) como meu guia”.
BUDDHÂGAMA (Buddha-âgama) – Literalmente
“aproximação ou legado à iluminação”. Seguimento da doutrina de Zâkya-Muni
(Buddha). No Ceilão e outros países búdicos se designa com dito nome ao
Buddhismo, ou seja à doutrina de Buddha.
BUDDHA-MÂRGA – A via de Buddha. A Lei
religiosa predicada por Buddha.
BUDDHA-PHALA – Literalmente, “o fruto de
Buddha”, a fruição do Arahattvaphala ou
condição de Arhât.
BUDDHA SIDDHÂRTHA – Nome dado a Gautama,
príncipe Kapilavastu, em seu nascimento. Dito término é uma abreviação de Sarvârthasiddha, e significa “realização
de todos os desejos”. Gautama [ou Gotama], que significa “o mais vitorioso
(tama) na terra (gau)” era o nome sacerdotal da família Zâkya, régio nome
patronímico da dinastia a que pertencia o pai de Gautama, o rei Zuddhodana
[Suddhodhana] de Kapilavastu. Kapilavastu era uma cidade antiga, solo nativo do
grande Reformador, que foi destruída durante o tempo em que ele viveu. Do
título Zâkyamuni, o último componente, muni,
é interpretado no sentido de “poderoso em caridade, isolamento e silencio”, e o
primeiro Zâkya, é o nome de família.
Não há orientalista nem pândita (sábio) que não saiba de cor a história de Gautama, o
Buddha, o mais perfeito dos mortais que o mundo jamais haja visto, porém,
nenhum deles parece suspeitar sequer do significado esotérico que há no fundo
de sua biografia prenatal, isto é, o
significado da história popular.
O Lalita-vistara
faz um relato dela, porém se abstém de insinuar a verdade. Os cinco mil Jâtaka, os fatos de anteriores
nascimentos (reencarnações), foram considerados ao pé da letra, em lugar de
serem esotericamente. Gautama, o Buddha não teria sido um homem mortal se não
houvesse passado por centenas e milhares de nascimentos, antes do último deles.
Não há dúvida de que a relação detalhada deles e a assertiva de que durante os
mesmos ele foi abrindo caminho até acima, através de cada grau de
transmigração, desde o mais ínfimo átomo animado e inanimado, e desde o inseto
até a criatura mais elevada, ou seja o homem,
encerram simplesmente o tão conhecido aforismo oculto: “a pedra se converte em
planta, a plante em animal, e o animal em homem”.
Cada ser humano que tenha existido passou
pela mesma evolução. Porém, o simbolismo oculto nesta série de renascimentos
(jâtaka) inclui uma perfeita história da evolução nesta terra, pre e pós humana
e é uma exposição científica e fatos naturais. Uma verdade não encoberta, senão
desnuda e patente se encontra na sua nomenclatura, a saber, que nem bem houvera
Gautama alcançado a forma humana, começou a mostrar a cada uma de suas personalidades
a maior abnegação, caridade e sacrifício de si mesmo.
Buddha Gautama, o quarto dos Sapta (sete) Buddhas e Sapta Tathâgatas, nasceu, segundo a cronologia chinesa,
no ano 1024 antes de J.C., porém segundo as crônicas senegalesas, nasceu no
oitavo dia da segunda (ou quarta) lua do ano 621 antes de nossa Era. Deixou o
palácio de seu pai para abraçar a vida cética, na noite do oitavo dia da
segunda lua do ano 597 antes de J.C., e depois de passar seis anos em Gaya,
entregue à meditação e conhecendo que a tortura física de si mesmo era inútil
para aportar à iluminação, decidiu seguir uma nova via até chegar ao estado de
Budhi. Na noite do oitavo dia da duodécima lua do ano 592 chegou a ser um Buddha perfeito, e por fim entrou no Nirvâna no ano de 543, segundo o Budismo
do Sul.
Sem dúvida que os orientalistas se ativeram a
outras várias datas. Todo o restante é alegórico. Gautama alcançou o estado do
Bodhisattva na terra quando sua personalidade se chamava Prabhâpala. Tuchita (1) significa
um lugar neste globo e não um paraíso nas regiões invisíveis.
(1) [Tuchita
– é uma classe de deuses de grande pureza que figuram no panteão indu. No
Buddhismo do Norte exotérico ou popular é um Deva-loka, uma região celeste no
plano material, onde todos os Bodhisattvas renascem antes de descerem a esta
terra como futuros Buddhas. [No plural, uma classe de divindades de ordem
secundária identificada com os Âdityas].
(Dowson, Dicionário clássico indu. Por H.P.B.).
A seleção da família Zâkya e sua mãe Mâyâ,
como “a mais pura da terra”, está em harmonia com o modelo da natividade de
cada salvador, Deus ou Reformador divinizado. A lenda de haver ele entrado no
seio de sua mãe em forma de elefante branco, é uma alusão a sua inata
sabedoria, por ser o elefante de dita cor, um símbolo de cada Bodhisattva. Os relatos de que, ao
nascer o Gautama, o recém-nascido deu sete passos em quatro direções, que uma
flor a Udumbara (1) se abriu em toda
a sua peregrina beleza e que os reis nâgas
acorreram sem demora a batizar-lhe, são todas outras tantas alegorias na fraseologia
dos iniciados, bem compreendidas por todos os ocultistas orientais.
(2)
Udumbara – Um loto de tamanho gigantesco consagrado a Buddha: o Nila Udumbara
ou “loto azul”, considerado como um presságio sobrenatural quando quer
floresça, porque floresce uma só vez a cada três mil anos. Um desses vegetais,
segundo nos dizem, floresceu antes do nascimento de Buddha, e outro, próximo a
um lago ao pé dos Himalayas, no século décimo quarto, imediatamente antes do
nascimento de Tsong-ka-pa, etc.
Outro tanto se diz da árvore Udumbara (Ficus glomerata) porque floresce
a intervalos de largos ciclos, o mesmo que uma espécie de cactos, que só floresce a determinadas alturas e se
abre a meia noite. [Diz a Voz do Silêncio
(livro): “Os Arhans e os Sábios de visão sem limites são tão raros quanto à
flor da árvore Udumbara. Nascem os Arhans na hora da meia-noite, juntamente com
a planta sagrada de nove e sete talos, a flor santa que se abre e desprega nas
trevas, surgindo do límpido rocio no lado gelado dos cumes nevados não pisados
por nenhum pé pecador”.
Todos os acontecimentos de sua nobre vida se
expressam em números ocultos e cada sucesso chamado milagroso – tão deplorado
pelos orientalistas porque confunde o relato, tornando-se impossível separar a
verdade da ficção – é simplesmente o disfarce ou véu alegórico da verdade.
Isto é tão compreensível para um ocultista
versado em simbolismo, como é de difícil compreensão para um sábio europeu que
desconheça o Ocultismo. Cada detalhe da narração depois da morte do Gautama, o
Buddha, e antes de sua cremação, é um capítulo de fatos escritos numa linguagem
que deve ser estudada para ser bem compreendida, pois de outra sorte sua letra
morta conduzirá às contradições mais absurdas. Por exemplo: tendo recordado a
seus discípulos da imortalidade do Dharmakâya
(2), Buddha, segundo dizem, passou ao estado de Samâdhi e perdeu-se no Nirvâna do qual nada pode voltar. E sem
dúvida, apesar disto, apresentam Buddha abrindo com violência à tampa do
féretro e dele saindo para saudar os irmãos, de mãos dadas com a sua mãe, Mâyâ,
que tinha aparecido de repente no ar, ainda que houvesse ela morrido sete dias
após o nascimento do Gautama, etc., etc.
(3) Dharmakâya
– literalmente, “o corpo espiritual glorificado”, conhecido com o nome de “’Vestidura
de bem-aventurança”’.
É o
terceiro, ou o mais elevado dos Trikâyas, atributo desenvolvido por todo o “Buddha”,
ou seja: todo o Iniciado que tenha cruzado ou alcançado o fim do chamado
“quarto Sendero” (no esoterismo, o sexto “portal” que precede a sua entrada no
sétimo).
É o
mais elevado dos Trikâyas e o quarto dos Buddha-kchetra, ou planos búdicos de
consciência, representados figuradamente no ascetismo búdico como uma roupagem
ou vestidura de luminosa espiritualidade. No budismo espiritual do Norte, estas
vestiduras ou roupagens são: Nirmânakâya, Sambhogakâya e Dharmakâya, esta
última a mais elevada e sublime de todas, porquanto põe o asceta em um umbral
do Nirvâna. Sem dúvida, para o verdadeiro significado esotérico, veja-se o que
diz a Voz do Silêncio:
1º.
O corpo, vestidura ou forma Nirmânakâya é aquela forma etérea que alguém
adotaria no momento em que, abandonando o seu corpo físico, aparecesse em seu
corpo astral, possuindo, por acréscimo, todo o conhecimento de um Adepto. O
Bodhisattva vai desenvolvendo esta forma em si mesmo à medida que avança no
caminho. Uma vez alcançada a meta, depois de recusar a fruição da recompensa,
continua na Terra como Adepto: e quando morre, em lugar de encaminhar-se ao
Nirvâna, permanece naquele corpo glorioso que tenha tecido para si próprio;
invisível para a humanidade não iniciada, a fim de velar por ela, protege-la e
guia-la pelo caminho da Justiça.
2º.
Sambhogakâya, ou “corpo de Compensação”, é o mesmo que Nirmânakâya, porém com o
brilho adicional de “três perfeições”, uma das quais é a completa obliteração
de tudo quanto concerne a Terra.
3º.
Dharmakâya é o de um Buddha completo, ainda que propriamente não seja um corpo
de modo algum, senão tão somente um sopro ideal; a consciência abismada na
Consciência Universal, ou a Alma livre de todo atributo. Uma vez Dharmakâya, o
Adepto, ou Buddha, abandona atrás de si toda a relação possível com esta Terra
e a todo pensamento com ela ligado. Assim é que, para poder ajudar a
humanidade, o Adepto que tenha adquirido o direito ao Nirvâna, “renuncia ao
corpo Dharmakâya”, segundo a fraseologia mística; não conserva de Sambhogakâya
outra coisa que o vasto e completo conhecimento, e permanece em seu corpo
Nirmânakâya.
A
escola esotérica ensina que Gautama Buddha, com vários de seus Arhats, é um
Nirmânakâya deste gênero, um “Buddha de Compaixão”, e que não se conhece nenhum
que seja mais elevado que ele, por razão de sua grande renúncia e sacrifício
para o bem da humanidade.
Como Buddha era um Chakravartin (o que faz girar a roda da Lei), seu corpo, no ato da
cremação, não podia ser consumido pelo fogo comum. E o que sucedeu? De
improviso um jorro de chamejante fogo brotou
da Svastika que tinha no peito e
reduziu seu corpo a cinzas. O pouco espaço que dispomos nos impede de oferecer
mais exemplos. No tocante a ser, é um dos verdadeiros e inegáveis Salvadores do
mundo, bastando dizer que o mais fanático missionário ortodoxo – a menos que
esteja irreversivelmente louco, ou que não tenha mais o mínimo respeito à verdade
histórica – não possa encontrar a mais leve acusação contra a vida e o caráter
pessoal de Gautama, o “Buddha”. Sem pretensão alguma à divindade, deixando que
seus prosélitos caíssem no ateísmo antes que se fundissem na degradante
superstição do culto ao deva ou ao
ídolo, sua vida, desde o princípio até o fim, foi santa e divina. Durante os quarenta
e cinco anos de sua missão, sua vida, como a de um deus, é inatacável – ou como
deveria ser a deste último.
É um perfeito exemplo de um homem divino.
Alcançou a condição de Buddha – isto é a iluminação completa – inteiramente por
seus próprios méritos e graças a seus esforços individuais, porquanto não se crê
que qualquer deus tenha o menor mérito pessoal no exercício da virtude e
santidade.
Os ensinamentos esotéricos pretendem que
Gautama renunciou ao Nirvana e abandonou a vestidura Dharmakâya para continuar
sendo um “Buddha de Compaixão” acessível
às penalidades e misérias deste mundo. E a filosofia religiosa que deixou para
a humanidade tem produzido durante mais de dois mil anos, gerações de homens
virtuosos e desinteressados.
A sua é a única religião absolutamente livre de manchas de sangue entre todas as religiões
existentes: tolerante e generosa, inculcando a caridade e a compaixão
universal, o amor e o sacrifício de si mesmo, a pobreza e o contentamento com a
sorte de cada um, seja esta o que for. Nem perseguições nem imposições da fé
por meio do fogo ou da espada jamais a fizeram coberta de opróbrio. Nenhum deus
que vomite trovões e raios houve se
imiscuído em seus puros preceitos. E se o sensível, filosófico e humano
código de vida diária, que nos deixou o maior Homem-Reformador conhecido,
chegar algum dia a ser adotado pela humanidade em geral, seguramente
principiaria para a espécie humana uma Era de paz e bem-aventurança.
BUDDHAS DE COMPAIXÃO – Com este nome se
designam aqueles Bodhisattvas que,
havendo alcançado a categoria de Arhat, recusam-se passar ao estado nirvânico
ou “a pôr-se na vestidura Dharmakâya
e passar para a outra margem”, pois, então, não estaria em seus poderes ajudar
a humanidade ainda no pouco em que o karma permite. Preferem permanecer invisíveis
(em Espírito, por assim dizer-se) diante do mundo e contribuir para a salvação
dos homens, exercendo sobre eles sua influência para que sigam a boa Lei ou, o
que seja o mesmo, guiando-os pelo caminho de Justiça. (Voz do Silêncio, III).
Tradução Espanhol / Português: Rayom Ra
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