A mente humana teve grande arranque na sua formação desde o ensino básico, técnico ou superior, com a introdução de novas e objetivas metodologias do aprendizado.
Embora a vida planetária haja mudado radicalmente de um século para cá, notadamente após a segunda grande guerra mundial, pelo avanço da ciência e tecnologia a níveis extraordinários, os seres humanos imersos nesta escalada, convivem, entretanto, cada vez mais, com novos e intensos problemas que advieram para as sociedades. Não há paz na Terra. As turbulências da vida agitada das cidades, a despeito de toda a modernidade, provocam cumulativas cargas emocionais e sucessivas preocupações que nunca terminam. Na verdade homens e mulheres são essencialmente os mesmos que vêm transitando pela Terra pelos séculos e milênios.
Consultórios, clinicas e hospitais lotam diariamente para exames e tratamentos de doenças mediante sistemáticos procedimentos, onde as avaliações médicas são dadas após o automatismo de aparelhos para exames. A descomunal rede laboratorial mundialmente ramificada registra a cada hora inacreditáveis somas de valores para atendimentos ao comércio de drogas sintéticas, em muitos formatos, contabilizando incríveis fortunas.
Isso não seria mais do que um problema dentre muitos outros com que convivemos e compartilhamos diariamente com nossa sociedade – muitas vezes com grandes complexidades – se os doentes, mediante todas as etapas a que são submetidos desde a entrada em clínicas ou a internações hospitalares, realmente ficassem curados. Naturalmente não é sempre possível a remissão completa dos muitos males humanos, nem é possível evitar sequelas incuráveis pelos esforços de representantes da medicina oficial nos seus atendimentos.
Entretanto o que mais assusta hoje nesses casos, é constatarmos uma grande fuga das consultas para tratamentos naturais em troca da aceitação do uso vicioso das drogas laboratoriais sintéticas. Essas poderosas drogas causam inicialmente falsas sensações de melhoras, mas drenam continuamente as forças dos doentes e suas reservas monetárias quando as têm. Nessa condição o doente vai pouco a pouco aniquilando suas forças e restante da saúde, a fim de viver mais uns poucos anos, por apegos ou amor, mesmo em meio às crises psicológicas profundas, outras patologias, fortes efeitos colaterais, destemperos irascíveis, etc.
Esse tipo de angústia que assola a realidade humana em todos os quadrantes do mundo, não é, entretanto, do mesmo tipo com que convive o personagem Sorman em nossa análise de valores esotéricos.
Assim em Sorman sua angústia é especialmente administrada. Como narrado na obra Enigma Eu (*) ele novamente se lança a procura de um novo caminho de realização espiritual, desprezando ou procurando evitar todos os empecilhos que o cercam, sequer suspeitando dos caminhos que doravante haverá de percorrer. Contudo, caro leitor, Sorman ainda vive envolto por um resto de atmosfera onde a ingenuidade dos sonhos avança rapidamente para extinguir-se sobre seus próprios limites máximos. Mas ele já começa a se temperar com o sentido oposto. E Sorman é um daqueles preciosos exemplos escolhidos pelos desígnios de uma saga.
(*) Enigma Eu: https://arcadeouro.blogspot.com/2015/07/enigma-eu.html
A jovem personalidade de Sorman também convive com a inconsciência do quem sou eu, mesmo considerando as experiências espirituais obtidas no ashram que ele acaba de deixar. A despeito de sua aplicação e dedicação aos ofícios, e vida comunitária, as experiências lá obtidas não foram suficientes para os requisitos de sua Alma. A personalidade é para ser na Terra uma projeção da sabedoria e sensibilidade da Alma e não o oposto. Por isso se faz necessário burilar os eleitos de modo incomum, a fim de que a Alma consiga traze-los para a unidade com suas partes superiores. Não sem angústias e sofrimentos às vezes acerbos.
Assim no retorno a casa dos pais Sorman busca pela readaptação ao mundo das causas mais intensas a que também pertence por heranças atávicas. A Alma em plano superior é seu mestre verdadeiro neste estágio, que tendo tomado ao seu cargo a missão de ocultamente traçar-lhe os novos e necessários caminhos a percorrer, vem conduzi-lo para essa finalidade. Nesse particular quadro, ela o traz inicialmente de volta à mãe natureza, no elemento água – o mar – evidenciando inesquecível bênção, que mais tarde ele, engolfado por circundantes dificuldades, recordaria. Vejamos o trecho:
“Manhã seguinte saiu. Desde a chegada, há dois dias, permanecera em casa. O sol não se mostrava inteiramente; havia nuvens, a chuva cessara e foi à praia. Caminhou longo trecho sobre a areia, descalçou as sandálias, sentiu aquela agradável maciez sob os pés e a água a tocá-los em lances esparsos. Era cedo ainda, havia poucas pessoas por lá, cercava-se do silêncio de que tanto gostava: aprendia com ele. A ebulição das multidões já não o atraia tanto. Somente vez por outra lhe vinha a necessidade de penetrá-las, ombrear-se, sentir-lhes daquela vida que a todos permeava.
As nuvens, de quando em quando, obstruíam a presença solar. Sorman voltava-se para o mar no justo instante em que um dos fragmentos de luz atingia-lhe a cabeça, configurando-lhe especial brilho aos negros cabelos. Movido por uma determinação do inconsciente, sem relutar obedeceu, soltando-os suavemente, permitindo-lhes espalharem-se com naturalidade sobre os ombros. Ficou assim por segundos - vários deles - a olhar aparentemente o vazio, nem ao céu nem ao mar, mas a um espaço intermediário de insondável profundidade. Depois, voltando-se de costas andou alguns passos, afastou-se da areia umedecida e sentou-se. Dobrando as pernas em padmasana, começou a refletir sobre o elemento água. Vinha-lhe à memória relatos mitológicos acerca de Netuno, Tritão e Nereidas. Sem perceber, passou da reflexão a contemplação. A quebração das ondas tocava-lhe a sensibilidade; ele abria a mente e as sentia. As ondas rolavam, se espalhavam mansamente: desapareciam para de novo reaparecer. O estereótipo causava-lhe entorpecimento. A mente já alçava voo, liberava-se dos laços condicionantes; partia deixando a sós sua sombra. Os olhos de Sorman, abertos, nada mais viam; o corpo endurecido e empertigado parecia sem vida; somente os longos cabelos se moviam por aragens de brisa.
Foi verdadeira a viagem. Ao longe percebia uma voz de mulher entoando belo canto. Depois chegava um som mais forte, como de uma trombeta - ou talvez de uma grande concha - mas caia-lhe macio, sem estremecimentos. Agora vozes, risos, conversas; era tudo bom, amigo, aconchegante! Ao retomar a consciência não soube precisar quanto tempo havia se passado. Voltara tão suavemente quanto partira. Havia leveza em seu íntimo e agradeceu a Maia e a Brahma!”.
Rayom Ra
http://arcadeouro.blogspot.com
Veja a Parte IV: https://arcadeouro.blogspot.com/2022/08/o-eterno-giro-do-presente-iv.htm
Veja a Parte VI: https://arcadeouro.blogspot.com/2022/08/o-eterno-giro-do-presente-vi.html
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