A sequência do “Drama da Alma”, cujo desenrolar é vivido por Jesus, apresenta agora a cena dos mais tristes e tocantes fatos, como revela a necessidade por absoluta renúncia de todos os laços do mundo.
“Então veio Jesus ter com eles num lugar chamado Gethsemane, e disse para seus discípulos: assentai-vos aqui. E levou com ele Pedro, Tiago e João”.
Eles eram os mesmos amigos, ou faculdades que o haviam acompanhado na Sua Transfiguração, quando foi-lhes mostrada a visão do que agora realmente estava para acontecer.
“Então disse-lhes: minha alma excede de tristeza como diante da morte; ficai aqui e vigiai comigo; e foi mais adiante e orou”.
Aqui se deve notar a premonição de sua entrega a fim de realizar o ato que elevaria Sua consciência além daquele nível vivenciado por seus “discípulos”. Embora ele atuasse como alma iluminada, não se tinha ainda liberado dos liames do ego. Assim, deveria passar pela terrível provação de renunciar definitivamente a todo o vestígio de individualidade e de tudo o que tão zelosamente houvera edificado em épocas passadas, através de inúmeras encarnações.
“Ficai aqui e vigiai comigo, enquanto vou orar. Ó, Meu Pai, se possível, passa de mim este cálice”.
Esta súplica acentua quão difícil é subjugar os elementos inferiores do ego. A alma sabe que deve realizar seu trabalho pré-elaborado, pois o Plano da Criação não pode ser ignorado e nem evitado. Desta maneira, Jesus, resolutamente, oferece a renúncia a tudo que seja:
“Não como eu queira, porém como tu queres!”
Mesmo assim, as etapas parecem ser quase insuperáveis, pois para estas realidades espirituais:
“Ele voltou aos discípulos (Suas faculdades inferiores) e os encontrou dormindo”.
“Por que não pudesteis vós vigiar comigo por uma breve hora? O espírito é de fato forte, porém a carne é fraca”.
Porém a batalha não estava ainda vencida, pois:
“Ele veio pela segunda e terceira vez e orou dizendo: Ó, Meu Pai, se este cálice não pode passar de mim, exceto se eu bebê-lo, seja feita a Tua vontade”.
A terrível desolação desta batalha entre os laços do ego físico e o apelo da alma pela liberação, deve acontecer na mais completa solidão, pois a liberação final deve ser totalmente voluntária e a decisão imperativa deve ser tomada sem a ajuda ou persuasão de outros.
“E ele veio e os encontrou dormindo novamente, pois seus olhos estavam pesados”.
Mesmo o próprio Deus não priva o indivíduo de seu livre arbítrio, pois se deve: “escolher o bem e recusar o mal”. Assim, em austera solidão, ele tomou a severa resolução:
“Levantai, vamos indo, vede que se aproxima aquele que me trairá”.
Outra significativa cena no Jardim do Gethsemane é passada quando Judas e a multidão vêm para levar Jesus:
“Pedro puxou da espada e decepou a orelha de um dos servos do sumo sacerdote”.
Por que este incidente é registrado? Não foi somente para mostrar que tão logo ficou evidenciado que os judeus tinham rejeitado Jesus, Pedro, como seu principal discípulo, procurou frustrá-los do privilégio de ouvirem mais de seus ensinamentos? Foi-lhes dito:
“Até setenta vezes sete se deve perdoar”. E mais:
“Por conseguinte ele disse: Ponha a espada no seu lugar”.
Este axioma é genuinamente verdadeiro, desde que prova:
“Que todo aquele que toma a espada perecerá pela espada”. “E os que tinham prendido Jesus levaram-no até Caiaphas”.
O nome do sumo sacerdote significa “cavidade”, “depressão”, sendo suplementado pelo “poder direcionador do pensamento religioso que é inteiramente intelectual e sujeito à forma e cerimônia, porém despido da iluminação espiritual”.
Não importa que ele não tenha compreendido o Mestre e que se ressentisse de sua larga doutrina espiritual. Mesmo Pedro pôde somente: “sentar-se à porta com os servos”, indicando que o intelecto é proveniente das faculdades inferiores e como tal permanece mudo e em desconsolo do lado de fora da porta do templo interno, onde reside a iluminação espiritual e a consciência crística.
Também “reconstruir” o templo em três dias é mais uma alusão velada à espiritualização essencial dos três corpos superiores, e que durante esta transformação íntima não pode “responder nada” contra a falsa e cínica cobrança das pessoas voltadas para os valores terrenos. Somente com verdadeira relutância que Jesus considerou seu próprio grau de aquisição espiritual, quando:
“O sumo sacerdote disse-lhe: Eu conjuro-te pelo Deus vivo que nos diga se és o Cristo, o filho de Deus”.
Tamanho estado de iluminação foi muito além da compreensão, mesmo do sumo sacerdote, que disse:
“Ele falou blasfêmia, que pensais vós?” Eles responderam dizendo que ele era condenado à morte.”
Isto é uma alusão encoberta da crise mística que agora aguarda por ele. Para aumentar sua ignomínia, Pedro nega que ao menos conhecera Jesus.
“Então o Senhor olhou-o e imediatamente o galo cantou”.
Isto demonstrou que somente com maior desenvolvimento se pode compreender o ensinamento do Mestre.
“Então ele se foi e chorou amargamente”.
Ainda assim, ele não teve a coragem ou a confiança de permanecer ao lado de seu amigo no seu grande perigo. Mas Judas, representando os elementos inferiores do ego pessoal, retrata-se e reconhece que:
“Eu pequei e traí sangue inocente”.
A isto se segue a curiosa decisão tomada pelo sumo sacerdote em servir-se das rejeitadas “trinta peças de prata”, no sentido de comprar com elas “o campo de um oleiro para sepultura dos estrangeiros”.
Contudo, como um oleiro modela formas terrenas, isto sugere que aquele que puder treinar jovens humanos, o campo será sua zona de atividade. Como a prata só reflete a luz da verdade, ela infere que a ortodoxia, que não pode aceitar ou reconhecer as doutrinas crísticas, só pode atuar como ensinamento elementar para estrangeiros (ou estranhos), aqueles da “corte externa” ou ego inferior, embora eles venham a ser enterrados lá mesmo.
[Extratos de “The Drama of the Soul” por Shabaz Britten Best]
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[Os textos do Arca de Ouro, por Rayom Ra, podem ser reproduzidos parcial ou totalmente, desde que citadas as origens ]
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