O relacionamento maior, que é o que existe entre um Mestre e um discípulo, desapareceu completamente. Você não será capaz de entender Jesus se não puder entender a dimensão desse relacionamento. A esposa foi substituída pela amante, o marido também, mas o relacionamento entre o Mestre e seus discípulos não existe mais. Ou melhor, tem sido substituído por algo muito diferente que é o que existe entre um psiquiatra e seu paciente.
Entre o psiquiatra e seu paciente existe um relacionamento que está fadado a ser doentio, patológico – porque o paciente não está à procura da verdade; não está na realidade, à procura da saúde. Esta palavra “saúde” é muito significativa: exprime totalidade, significa santidade, uma cura íntima na essência do Eu. O paciente não está em busca da saúde, porque se estivesse seria um discípulo, não um paciente. O paciente vai ao psiquiatra para se livrar da doença; sua atitude é totalmente negativa. Vai apenas para ser forçado a tornar-se normal, para tornar-se parte da engrenagem do mundo normal outra vez. Está desajustado e precisa do psiquiatra para ajudá-lo a se ajustar novamente. Mas ajustar-se a quê? A este mundo? A esta sociedade absolutamente doentia?
O que você chama de ser humano “normal” nada mais é do que a patologia normal, a loucura normal, a insanidade normal. O “normal” também é insano, mas insano dentro dos limites aceitos pela sociedade, aceitos pela cultura. Às vezes alguém ultrapassa, vai além dos limites – então torna-se doente. Toda a enferma sociedade diz que esse alguém está doente. E o psiquiatra atua nesse limiar para auxiliar o doente a voltar para a multidão.
O psiquiatra não pode ser o Mestre, porque ele mesmo não é total. E o paciente não pode ser o discípulo, porque não está a procura do saber. Está perturbado e não quer continuar assim; seu esforço tem como objetivo apenas o ajustamento, não a saúde. O psiquiatra também é doente. Ele não pode ser o Mestre – embora no Ocidente ele esteja fingindo que é, o que mais cedo ou mais tarde, também acontecerá no Oriente. O psiquiatra pode ajudar os outros a se ajustarem. Isso pode acontecer: um homem doente pode auxiliar outro homem doente de diversas maneiras. Mas não pode levá-lo à totalidade; um louco não pode levar outro louco além da loucura.
Até mesmo os Freuds, os Jungs e os Adlers são absolutamente doentios. Não apenas os psiquiatras comuns são patologicamente doentes; os mais renomados também o são. Eu lhes contarei alguns fatos e vocês poderão perceber isto. Quando alguém mencionava algo sobre a morte, Freud começava a tremer. Por duas vezes chegou a desmaiar apenas porque alguém falou sobre as múmias do Egito. Ele desmaiou! Jung também. Ao falar certa vez da morte e de cadáveres, de repente começou a tremer e desmaiou, ficando inconsciente.
Se a morte causava tanto medo a Freud, o que dizer de seus discípulos? E por que tanto pavor da morte? Você pode imaginar Buda com medo da morte? Neste caso, ele não seria mais Buda. Jung dizia que muitas vezes teve vontade de ir a Roma visitar o Vaticano, principalmente sua biblioteca, que é a maior do mundo e onde estão os mais secretos registros de todas as religiões que já existiram – verdadeiras raridades. Mas sempre que ia comprar a passagem, ele começava a tremer – só de pensar em ir a Roma! O que acontecerá quando você se dirigir a Moksha? Jung cancelava a passagem e voltava. Nunca chegou a ir, nunca. Tentou muitas vezes, mas finalmente decidiu: “Não, eu não posso”.
O que é o medo? Por que um psiquiatra teria medo de ir a Roma? Porque Roma é justamente o símbolo representativo da religião. Este homem, Jung, criou uma filosofia em torno de sua mente e tinha medo de vê-la destruída. Assim como um camelo tem medo de ir até o Himalaia, porque quando o faz, fica, pela primeira vez, sabendo que isso não significa nada. Toda essa filosofia criada por Jung é apenas uma infantilidade, porque o homem já criou tantos, tão vastos cósmicos sistemas, e de nada adiantou. Ele tinha medo porque indo a Roma estaria indo também para as ruínas dos grandes sistemas que o passado criou.
O que dizer sobre o seu pequeno sistema? O que dizer sobre esse cantinho que você limpou e enfeitou? O que dizer sobre sua filosofia? As Grandes Filosofias desabaram e tornaram-se pó. Vá a Roma, veja o que aconteceu! Vá a Atenas, veja o que aconteceu! Onde estão as escolas de Aristóteles, Platão e Sócrates? Todas desapareceram em cinzas. No final, todos os grandes sistemas se transformaram em cinzas. E todos os pensamentos, afinal, provam sua inutilidade porque são apenas criações do homem. (*)
Apenas pelo “não-pensamento” pode se chegar ao conhecimento do Divino. Pelo pensamento você não chega ao conhecimento do eterno, porque o pensamento pertence ao tempo. O pensamento não pode estar no eterno; nenhuma filosofia, nenhum sistema de pensamento pode existir no eterno.
Esse era o medo! Pelo menos quatro ou cinco vezes Jung fez reservas e cancelou-as. E esse homem, Jung, é um dos grandes nomes da psiquiatria. E se ele tinha medo de ir a Roma, o que dizer de seus discípulos? Mesmo que você não tenha medo, isso não quer dizer que você seja melhor do que Jung. Quer dizer apenas que você é mais inconsciente. Ele tinha consciência de que em Roma sua cabeça poderia tombar; de que no momento em que olhasse para as ruínas de todos os grandes sistemas, sentiria um tremor, um certo medo da morte. E ele perguntaria a si mesmo: “o que acontecerá com o meu sistema? O que acontecerá comigo?” Ele tremeu e desistiu. Em suas memórias escreveu: “Então, finalmente, abandonei meu projeto. Não irei mais a Roma.”
O mesmo aconteceu com Freud muitas vezes. Assim, parece que isso não é apenas uma coincidência. Freud também tentou ir a Roma e teve medo. Por que? Freud era tão irritado quanto você, era tão sensual quanto você, tinha tanto medo da morte quanto você. Então, qual a diferença? Ele deve ter sido um homem muito inteligente – um gênio, talvez – pode ter auxiliado um pouco, mas era tão cego quanto você ao que diz respeito ao Supremo, no que diz respeito ao mais secreto, ao mais íntimo centro do ser.
Não a psiquiatria não pode tornar-se uma religião. Pode ficar bem num hospital, mas não num templo – não é possível. Um psiquiatra pode ser necessário porque as pessoas estão doentes, desajustadas; mas o psiquiatra não é um Mestre e o paciente não é um discípulo. Se você vier a um Mestre como um paciente, então não compreenderá nada, porque o Mestre não é um psiquiatra. Eu não sou um psiquiatra. As pessoas vêm a mim e dizem: “Estou sofrendo ansiedade mental, de uma ansiedade neurótica, disso e daquilo”. Eu lhes digo: “Está bem, porque eu não vou tratar de sua ansiedade, vou tratar de você. Não estou preocupado com as suas doenças. Estou interessado apenas em você. As doenças estão na periferia. Onde você está não existe nenhuma doença”.
Quando você compreende quem você é, todas as doenças desaparecem. Basicamente elas só existem porque você tenta encobrir o auto-conhecimento, tenta evitar a si mesmo, tenta evitar o encontro básico; elas só existem porque você não quer olhar para si mesmo. Mas por que você não quer olhar para si mesmo? O que lhe aconteceu? A menos que esteja pronto para se encontrar, não poderá tornar-se um discípulo, porque o Mestre não poderá fazer nada se você não estiver pronto para se encarar. O trabalho do Mestre é auxiliá-lo a encarar a si mesmo.
"Evidente que o guru Bhagwan procura imprimir sua particular didática no entendimento da psicologia. Ele analisa a partir da raiz e não do tronco e galhos da árvore, como equivocadamente faz a pesquisa ocidental desde o início da investigação do processo interior humano, que acabou por fazer parte do cabedal das ciências acadêmicas. As histórias sobre os medos que atacavam os pais da psicologia são curiosas e hilariantes, e não sabemos de quais fontes as retirou, pois não são encontradas nas suas usuais biografias, porque, naturalmente, sendo verdadeiras e em sendo tornadas públicas, os desmoralizariam e aos protótipos da ciência psicológica.
A psicologia como se desenvolveu até agora, realmente está muito longe de desvendar o ser humano, principalmente porque suas teorias não refletem os graus mais verdadeiros e fundamentais do que seja a estrutura endógena da alma.
Muito embora Freud e Jung tenham pesquisado as mitologias e religiões esotéricas do passado para construírem suas hipóteses, teses e definir conceitos, eles se abstiveram de considerar, por “medo” das reações da sociedade científica ou por mero desprezo, o processo cármico interligado e indissociado às reencarnações.
Neste mesmo erro recai a esmagadora maioria dos psicólogos modernos, pois tendo se tornado a psicologia uma ciência acadêmica não leva em conta o carma e a reencarnação, pois não tem como provar aquelas realidades através dos seus aplicativos científicos. E isso faz com que a psicologia jamais tenha decolado de seus primórdios, a não ser de se fazer floreada por um narcíseo verborragismo dos orgulhosos formuladores de teses sobre teses que não saem do lugar. A psicologia com seus atuais métodos e ferramentas, na verdade não pode atender às necessidades das almas enfermas, tanto do povo quanto, por óbvio paradoxo, de seus sacerdotes. As sessões são muito caras e não acessíveis para a maioria das pessoas e quando aplicadas em quem pode pagar não trazem os resultados que esta ciência teoricamente apregoa. Muitas das soluções são tornar os doentes dependentes de fortíssimos remédios alopáticos dopantes, soluções estas que a medicina tradicional poderia perfeitamente convergir e resolver pela simplicidade das decisões, embora ineficazes para a verdadeira cura. A cura como afirma sabiamente o guru, está na alma e não na mente, no cérebro ou corpo biológico.
Na verdade, a área é muito delicada e árida para a mente científica. Tratar do carma humano é tarefa das mais difíceis e intricadas, mas mesmo assim a ciência da psicologia perde de muito longe para os processos de curas mentais e espirituais dos antigos a quem a história se esforça por embaçar suas realidades e conhecimentos profundos. No antigo Egito os hierofantes utilizavam-se da hipnologia, das projeções dos corpos astrais para os laboratórios do espaço, onde os sacerdotes-médicos tratavam dos traumas e limitações dos pacientes, fazendo-os retornar ao corpo biológico com outros dispositivos para suportar as cargas cármicas que possuíam.
Na Grécia, os principais filósofos eram basicamente gnósticos práticos e colocavam seus axiomas filosofais para funcionar nas curas dos corpos e almas das populações através de suas medicinas iniciáticas. Portanto, diferiam infinitamente dos doutos da psicologia moderna que não se atém a métodos mais profundos de curas por desconhecerem realmente os labirintos da alma. Ateem-se muito mais às abstrações e teorias sobre os segmentos da personalidade, que é a Mônada encarnada num ego envolto por véus de valores basicamente materiais, do que propriamente à importância do Eu Superior que ainda dele quase nada entendem.
A despeito de Bhagwan ter profetizado a derrocada da psicologia oriental tal como sucederia com a ocidental, isto não vem se verificando da maneira pragmática como aventado no seu discurso, pois a psicologia ainda desempenhará em futuro papel mais importante, quando os verdadeiros mestres do saber dela tomarem conta. Hoje, e por tradição de seus costumes esotérico-religiosos, os orientais são muito mais sensíveis ao entendimento da alma, do verdadeiro Eu e do Espírito. A sabedoria milenar dos Vedas e da filosofia prática do Zen os ensina a tratar a psicologia com fundamentos cármicos, conhecimento reencarnacionista e entendimento da Super Alma – a representação ou síntese coletiva de todas as expressões individuais da Alma Superior da humanidade - cuja abrangência sempre foi o patamar principal dos ensinamentos antigos e alvo dos estágios da meditação oriental. E nisto incluiu-se Buda, como posteriormente se incluiu Jesus.
Lamentáveis são as formulações discricionárias de psicólogos que vêm tratar de assuntos do espiritismo e esoterismo em geral, sob os ensinamentos dos bancos escolares acadêmicos. Absolutamente nada entendem do processo mediúnico, dos trabalhos das frentes espirituais em ação sobre a ciência, do atendimento das doenças cármicas, porque simplesmente se mantém na periferia do corroído arcabouço da psicologia materialista. E nestes casos não há mesmo como se chegar a qualquer perspectiva de orientação psicológica para a autocura de pacientes, uma vez que seus mestres, eles mesmos – salvo os verdadeiros psicólogos estudiosos do espiritismo e ocultismo - nada sabem da vertente espiritual da raça humana." (Rayom Ra)
(*) "Teria sido literalmente assim? A sabedoria dos Grandes Mestres do conhecimento teria desaparecido nas dobras do passado, desvanecida e soçobrada como rasas e errantes nuvens aos sopros irrefreáveis e irreverentes de ventos dos tempos, sem nada deixar senão unicamente rastros semi-encobertos no solo poeirento? Não cremos que o guru tenha desejado ser tão enfático em seu pragmatismo, a não considerar que os mesmos geniais pensadores gregos e romanos, como exemplos citados por ele próprio, tenham unicamente exercitado e ensinado o pensamento reflexivo sem um conhecimento real de Deus.
Os ciclos evolucionários das raças impõem desenvolvimentos físicos, anímicos, mentais e espirituais como estágios necessários para os bilhões de almas que interpolam no planeta. Para se chegar aos objetivos da meditação transcendental a Deus e a seus êxtases indescritíveis são necessários os desenvolvimentos de todos os veículos que montam o ego. A mente intelectual precisa inferir na alma objetiva elementos analíticos, desconstruindo a matéria mental como um todo não qualificado por aspectos. A mente intelectual divide, é verdade, e essa é a fase mais perigosa em relação ao comportamento obediente de tantos bilhões que seguiram os ensinamentos religiosos dos Mestres do passado. Pois a ciência da matéria seduz e sua razão objetiva obnubla a luz direta da Alma. Não obstante, o homem precisa entender para tornar-se conhecedor e incorporar no ego o saber; somente depois do conhecimento da matéria e do sofrimento disto decorrente, ele junta as partes de seu ego desintegrado, como Osíris, e volta sábio para a integralidade da Alma.
Pois os mesmos Mestres que em Atenas, no Cairo, Luxor ou Roma ali se detiveram para ensinar como polarizar o pensamento intelectual nas mais altas proposições do inefável humano, foram no passado os grandes pensadores e gurus que se realizaram até certas alturas de Deus na ciência da meditação.
Acreditamos, outrossim, que o sábio Bhagwan Shree Rajneesh tenha proposital e conscientemente omitido que os ciclos das grandes escolas do passado que se tenham acabado, proporcionaram a poucos, em relação a milhões de humanos, o aprendizado das lições elementares do pensamento intelectual que conduzem a um necessário e mais elevado patamar. Como mais adiante ensinaria Jesus ao mundo, através de Pedro, cujo intelecto, quando ainda não iluminado pela verdadeira Luz da Alma não alcançava os preâmbulos das verdades embutidas nas parábolas mais significativas do Mestre.
Quanto ao conhecimento de Deus, muitos elevados seres falam-nos de suas experiências pessoais sem que ainda saibamos exatamente como foram, porém são muitos os caminhos que nos conduzem ao desiderato último desta nossa etapa evolutiva." (Rayom Ra)
Rayom Ra
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[Os textos do Arca de Ouro, por Rayom Ra, podem ser reproduzidos parcial ou totalmente, desde que citadas as origens ]
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