Figura 1
No post anterior, conseguimos definir a mente como um processo relacional regulatório do fluxo de energia e informações. Mente/Cérebro/Relacionamentos. Esse tripé é a chave para entendermos o que vem a ser bem-estar. Saúde mental e felicidade. Será que esse binômio guarda alguma interconexão? Acredito que sim. O problema é considerar a seguinte hipótese como verdadeira: Nascemos para sermos felizes? O que é essa tal felicidade? É um estado de graça? É um êxtase? É um estado emocional? É saúde? É o funcionamento apropriado do corpo físico? É o funcionamento equilibrado dos corpos sutis? O que é a felicidade? É um estado da “alma”? Estamos todos em algum tipo de relacionamento. Não há como permanecer no isolamento por muito tempo sem perder o senso da saúde mental. Precisamos uns dos outros. Nós somos observadores uns dos outros. A mente é real! Porém não há necessidade de nos identificarmos com a mente. Somos, sem dúvidas, muito mais que a mente. temos, sim, que “aprender” a utilizar esse “instrumento” poderoso. Sem ela, seria impossível estabelecer algum tipo de “percepção” do outro. O outro existe em minha percepção. Podemos ir além. Consigo perceber o outro e identificar o seu estado emocional. Consigo perceber o outro e sentir que ele está me sentindo. “Sentir-se sentido”. Essa seja talvez uma das características mais humanas que possuímos: a capacidade de sentir que estamos sendo sentidos. Isso é fundamental para a saúde mental e também para a felicidade. Mente/cérebro/Relacionamentos. Esse triângulo é a base do bem-estar. Mente e cérebro formam uma ligação íntima e inseparável. Temos bilhões de neurônios que fazem representações de nossas intuições, pensamentos e sentimentos. Se pudéssemos ouvir o som dos disparos dos neurônios quando estão realizando a representação de um pensamento, como seria? Qual sinfonia eles tocariam? Quais arranjos são necessários para que um significado apareça? Quais acordes são realizados para que uma emoção seja manifestada? É importante desenvolvermos um certo raciocínio sobre esses aspectos, porém não há necessidade de estabelecer nenhuma identificação com qualquer pensamento ou com qualquer sentimento. Somos muito mais que aquilo que pensamos e sentimos. Essa “identificação” com a mente é a origem do sofrimento!
Figura 2
A todo instante estamos realizando um verdadeiro “mapeamento” do outro e de nós próprios. Em qualquer relacionamento essa capacidade de “mapear” a si mesmo e o outro, ou seja, criar uma “imagem” que represente a si próprio e o outro, é a base da visão mental. Durante qualquer experiência que envolva relações interpessoais a visão mental está presente fazendo um levantamento das informações e energia do próprio corpo e simultaneamente realizando um outro levantamento das informações e energia do outro. Há uma espécie de “ressonância” mediada pelas emoções que podem ser compartilhadas de forma não verbal e que são fundamentais para a “percepção” do outro. É como se cada um de nós, como observadores, fossemos cocriadores uns dos outros. Somos sujeito e objeto simultaneamente em qualquer relacionamento. A emoção/sentimento “permeia” essa observação simultânea e consegue-se criar um mapa de “nós” em cada relacionamento. Essa ressonância ocorre em um relacionamento entre mãe e filho(a), entre namorados, entre amantes, entre amigos, entre membros de um grupo, entre grupos, entre comunidades, entre sociedades, entre cidades, entre países, entre… todos. Imagine por um instante se perdessemos a capacidade de sentir que somos sentidos. O que aconteceria? Indiferença? Frieza? Mecanicidade dos movimentos? Incapacidade de criar um mapa do outro? Exatamente isso. Estamos todos interconectados por uma realidade fundamental. Se somos infelizes, é porque tem algo em nossa consciência que não está integrado. Há alguma fragmentação da nossa essência que merece uma atenção especial. Aspectos de nossa mente subconsciente estarão presentes nesses “mapeamentos” e diante do fenômeno de ressonância corre-se o risco de projetar esses aspectos subconscientes como sendo do outro e, de repente, os outros tem raiva, tem ódio, tem diversas mazelas e , eu não. O problema está com os outros, não comigo! Como estamos buscando a felicidade? A felicidade interior não está no exterior. O problema real é que estamos constantemente nos identificando com esse oceano interno de pensamentos, crenças, sentimentos, medos, tristezas, desejos, anseios, frustrações e etc. Atribuímos um valor, um significado, uma energia e essa informação torna-se um “sofrimento” e , ainda mais, identifico-me com esse sofrimento. Somos muito mais que isso! A essência sempre presente em cada momento, em cada aqui e agora, é capaz de “nomear e dominar” cada “elemento” desse “oceano interno” que chamamos de mente. Temos que exercitar o poder da visão mental e, não, criarmos mais identificação com seus “elementos”. Isso gera sofrimento e como consequência a infelicidade. Estamos e permanecemos afastados da essência divina presente dentro de cada um de nós. Imagine como seria cada relacionamento se estivéssemos constantemente em íntima relação com a essência divina dentro de cada um de nós? Se pudéssemos realizar nossas escolhas em “sintonia” com essa frequência divina, encontraríamos todas as chaves que levam para a felicidade. A felicidade está nessa essência. E essa essência está dentro de nós. Portanto…
Figura 3
A consciência no ato da observação divide-se em sujeito e objeto. Surge a autoreferência em uma causalidade de hierarquia entrelaçada. Há uma identificação da consciência (sujeito) com o cérebro. Com essa identificação podemos criar representações de qualquer aspecto sutil (Intuições, pensamentos, sentimentos). O cérebro faz representações. Ao longo de toda a evolução, a consciência de forma criativa foi aumentando sua complexidade – expressões internas e particulares – a medida que o cérebro também aumentou sua complexidade com “aquisições” de mais áreas e regiões – complexidade da forma. Dessa maneira pesquisadores conseguiram identificar a presença de três cérebros dentro de um único cérebro – cérebro trino. Assim, nosso cérebro reptiliano – tronco encefálico – é responsável pelas representações mais primitivas relacionadas a sobrevivência propriamente dita. Fome e sede e a saciedade das mesmas. Instinto de reprodução e a saciedade sexual. Áreas e regiões com agrupamento de vários neurônios que “codificam” a representação dessas funções biológicas. Com o aumento da complexidade da forma, novas e mais complexas expressões internas da consciência podem ser representadas. A próxima conquista evolutiva foi o cérebro mamífero – cérebro límbico – responsável pela representação dos sentimentos e centros coordenadores das emoções. O cérebro emocional foi uma conquista criativa da consciência para prosseguir em sua evolução. Medo. raiva, ódio e outras emoções negativas foram necessárias nos primórdios da evolução para que padrões de disparos neuronais fossem criados para garantir a sobrevivência. Afinal um pequeno barulho na mata pode significar apenas um movimento do vento ou o movimento de algum predador. Na dúvida, é melhor fugir, senão… é o fim. O córtex cerebral é a aquisição mais recente com funções intelectivas nobres sendo a região pré-frontal a última aquisição evolutiva que permite a tomada de decisões baseadas na razão. Esses três cérebros desenvolvem uma ação conjunta e simultânea e o córtex pré-frontal é responsável por regular o fluxo de energia e informações provenientes do cérebro reptiliano e límbico. O cérebro reptiliano e o límbico enviam constantes informações e energia para todas as áreas superiores (córtex cerebral e córtex pré-frontal) mantendo essas áreas “alertas”, isto é, excitadas. Já o córtex cerebral consegue enviar energia e informações para as regiões hierarquicamente inferiores (cérebro límbico e reptiliano) com função inibitória dessas regiões.
Figura 4.
Hoje em dia sabe-se que a meditação “fortalece” a região pré-frontal. Quando focamos a atenção na nossa essência, em nosso verdadeiro “eu”, a capacidade de permanecer equânime, em paz, com senso de compaixão, assertivo, mesmo em “situações” estressantes traz a possibilidade de atingir o tão desejado estado de felicidade. Pois nesse estado de atenção plena não há nenhuma identificação com a mente e com nenhum de seus “elementos”. Observa-se que o “tempo” torna-se “atemporal”. Percebe-se os “espaços” entre os pensamentos e sentimentos. Uma sensação inexplicável de paz, plenitude e presença surgem e há um contato com a essência divina. Para que isso possa ter oportunidade de ocorrer é necessário o desenvolvimento dessa atenção plena. Quanto mais tempo permanecermos “centrados” como observadores do oceano interno das percepções (Intuições, pensamentos e sentimentos) em uma atitude apenas de identificação dessas energias e informações liberando-as em seguida, conseguiremos atingir um estado de graça e êxtase que pode ser traduzido em felicidade. Nossos relacionamentos serão mais saudáveis. As escolhas serão mais coerentes, pois conseguiremos estar cada vez mais conscientes das escolhas, não permitindo que a energia e informação do cérebro límbico invada e “inunde” o córtex cerebral, impedindo-o de exercer a sua nobre função de discernimento. A meditação da atenção plena é um instrumento poderoso capaz de proporcionar uma integração entre os hemisférios cerebrais esquerdo e direito e também proporcionar uma integração entre os três andares do cérebro trino. Podemos presenciar qualquer situação da experiência diária e não ser “dominado” por essas situações e, sim, dominarmos cada situação. Pessoas felizes que vivenciam situações difíceis encaram essas situações como oportunidades, já as pessoas infelizes visualizam problemas. Desenvolver e aprimorar nossa capacidade de visão mental proporcionará uma certa habilidade e capacidade de “nomear e dominar” qualquer situação do dia a dia. Com essa atitude de presença constante com atenção plena em nosso “eu” verdadeiro não haverá identificação do EGO com as armadilhas da mente. A visão mental é um instrumento para adquirirmos bem-estar e felicidade. Não o contrário! É uma oportunidade de conhecer as nós mesmos durante nossas ações. “Conheça a ti mesmo”.
Figura 5A visão mental é isso! Ela pode ser ampliada com a atenção plena. As ações serão mais coerentes e cônscias. Integração. Perceber o fluxo da consciência. Mapear a si próprio e ao outro criando um mapa de “nós”. Sentir que estamos sendo sentidos. Sentir que podemos sentir os outros. Empatia é isso. Aumentando a capacidade da visão mental, ampliaremos a “mente” e a capacidade de regular, durante uma relação, o fluxo de energia e informação sem identificação e sem sofrimento. Que possamos então despertar e ampliar a consciência para que a felicidade seja um estado em que possamos realizar nossas escolhas. Vale lembrar que não basta ler sobre a atenção plena, ela não virá sem uma certa pratica. Focar a atenção durante cinco minutos diários em nosso “eu” verdadeiro, na respiração, no ir e vir suave da respiração, percebendo e nomeando cada sensação, cada emoção, cada pensamento que possa surgir durante esses cinco minutos, sem julgamento, apenas nomeando e liberando trará uma sensação de bem-estar e felicidade. Caso você perceba que um pensamento o levou para algum lugar, sem problemas, honre a sua meditação e retorne a atenção para o seu verdadeiro “eu”. Em pouco tempo você experimentará que a convivência com você mesmo poderá ser agradável. A felicidade está ai, junto com a essência divina que permeia cada um de nós.
Abraços fraternos