quarta-feira, 29 de junho de 2016

O Encantamento Pelos Dez Nomes Divinos - Reedição

  "Escrito em sentido místico e muito elevado, 'O Encantamento Pelos Dez Nomes Divinos' constitui por si mesmo uma peça mágica de alto valor oculto. Foi a Oração dos Grandes Iniciados e é tão poderosa que, proferida com fé, tem a virtude de atrair aquilo que se deseja, desde que se não ultrapasse o termo do honesto e do justo, pois aqui como alhures, deve evitar-se o choque de retorno que se dá todas as vezes que as intenções deixam de ser puras. Para atrair amor, esta oração é mais que um imã".

   AINSOPH! 

  Manto de noite que nenhum olho contempla; umbral sombrio em que se despedaçaram Apolônio e Moshé, cansados de aprofundar as quarenta e nove portas precedentes!
  Um dia, resplendentes de glória, penetraremos teu abismo com a confiança de aportar nas praias da pátria!
  Que a vertigem de nos encaminhar para ti pelas vias da pena, recreie os nossos membros lassos e feridos!
  Essência de todas as coisas que coroas de eternidade as horas e o tempo, de infinito, as zonas do espaço e as multiplicidades do número. Qualquer que seja o meu orgulho de haver duvidado do teu mistério, não mais blasfemarei até que venha a projetar meu olhar de homem em teu silêncio. Eu te julgo muito longe de mim, ó modalidade primordial do Ser! A ti, cuja diferenciação, fonte de minha vida e fonte do mal universal, não foi talvez o limite do pavor! - Senão um acidente de que não há memória!
  Mas, pelos dez feixes de luz que projetam tua sombra central, pelos dez condutores de tuas vibrações, pelos dez delegados de teu Amor, eu evoco as virtudes de tuas principais emanações. Eu quero que cada um dos órgãos do corpo, cujo coração és Tu, à minha voz, se estremeça e responda com efusão de suas energias para o meu seio. Minha força manda, a minha fraqueza lhes dirige súplicas
                                                     
  I. EHEIE! 

  Olho nenhum jamais viu tua majestade reinar no Empíreo, nem cingir tua fronte a coroa de raios, nem tua boca que ordena aos Animais Santos a seguirem o vertiginoso curso do primeiro móvel e que proferiu os nomes que significam as coisas.
  Eu quero que o Príncipe de sereno semblante ponha ante tua face a teoria dos meus violentos desejos que para ti gravitam, pisando, malditos e flagelados, os nove degraus da escada dos céus.

  II. IAH! 

  Minha imaginação de poeta, humanizando a miragem de tua essência e se aninhando no Espaço, entrevê o gesto de tuas mãos em uma noite salpicada de estrelas, além da órbita dos planetas, cujo centro é o nosso Sol.
  As graças de que procedi acreditaram ver teu reflexo nos olhos serenos de um homem de cabelos ruivos que, nato em um presépio entre o boi e o asno foi crucificado; adoravam as mulheres o teu pálido reflexo na fronte sanguinolenta desse jovem.
  Teu Seio, ornado da sabedoria, sai da semente de um pai.
  Tuas mãos, ocupadas em jogar com as rodas, com as esferas que simbolizam tuas ideias, revestem de luz os meus olhos conturbados. O espírito humano naufraga facilmente no caos.
  Que Raizel, teu gênio confiante, faça ouvir a sua voz no meio da sarça ardente que tinge os meus desejos com o seu reflexo de chama!
                                                      
  III. IOD-HÊ-VO-HÊ! 

  Eu vi do horizonte um raio de Sol iluminar com um raio fulvo o ventre branco da pomba, incrustando, no céu, pela perpendicularidade de suas asas estendidas, uma aparência crucial.
  Assim iluminas com uma vibração de tua inteligência a vida manifestada. De teu seio os Anjos Grandes e Fortes vão investir o velho Saturno do poder de comandar a criação e a destruição das formas.
  Em manto negro constelado de grenates; cingida a fronte com um diadema plúmbeo e triste, eis-me queimando a flor sulfúrea, para que me leves o espírito, ó fumo azul, até os limites supremos do domínio sidéreo, ao limiar do Empíreo.
  Tu me guiarás, ó Zadkiel, às trevas do Mistério onde se engolfa a minha audácia e me aureolarás com a imortalidade, mesmo contra a vontade sinistra do demônio Zazel, que pretende levar à decrepitude, tanto quanto à podridão definitiva, a minha forma e o meu sangue.
                                                     
  IV. EL!
 
  Tenho na direita o cetro dos três ramos e o índex rígido como um phalus juvenil; és tu que Orpheu distingue sobre o cimo do Olimpo; magnífico e misericordioso, lançando os raios luminosos das Dominações para a esfera de Júpiter.
  O fumo do aloés e da noz moscada, queimados na caçoleta, cobre-me a face brônzea e os meus membros vestidos no manto azul marchetado de topázio.
  Tu me levas o cetro, ó Zadkiel, o bordão do comando.
  Indiferente às sugestões de Hismael, eu não o brandirei senão em nome da justiça e da misericórdia adorável.
                                                       
  V. ELOHIM GHIBOR!  

  Pois os deuses, tanto quanto os homens, e gênios planetários, têm um corpo feito de bela matéria. Por tua carne, corre, maravilhoso, o sangue, ó dispensador de forças! És o Pai dos corações heroicos e osculas e suas potências.
  Ó Marte! Infiltra-me as tuas forças para a luta. Teu capacete e cota de armas inflamam cintilantes rubis e as tuas narinas dilatam os vapores do tórax.
  E tu, Samael, cujo rosto robusto se entrevê em meio ao brilho das espadas, derrama-me nos rins cingidos de cobre o óleo da força que me dará a energia agressiva e a resistência para o combate perpétuo da vida, para a revolta santa e justa cólera.
  E contra Barzabel, o violento demônio da brutalidade, do ódio e da raiva, eu apresentarei a ponta da espada sagrada.

  VI. ELOHA!  

  Tu meditas o sonho luminoso da beleza. Teus olhares com as asas dos reis do esplendor chegam através o braseiro vital do Sol até a fronte do poeta aureolada de louro.
  Em meio ao lúcido coro da Apolônidas, ó Beleza! Eu nasci para adorar a tua face! Cingida a tríplice tiara de ouro e posta a capa recamada de carbúnculo, derramo sobre carvões ardentes as lágrimas do mastique e das flores do louro.
  Ó Rafael, Ó Phoibos! Princípe glorioso! Encheu meio seio de alegrias por estar no mundo, e para que, no frêmito sensual que proporcionam as graças da forma e as seduções das cores, e em êxtase para inatingíveis perfeições, eu ascenda até o cimo onde resplandece a beleza absoluta.
  Ó beleza, qual foi o ignorante que te chamou perecível? Tu, essência imarcescível, assim como a tua aparência mortal e a Luz que os procriou, proçagam teus reflexos nas esferas da eternidade. Para os olhos do vidente, seu esplendor não se apaga. Conjuro-te, Ó Sorath!

   VII. IOD-HÊ-VO-HÊ TSEBAOTH! 

  É pela vitória que tu te manifestas, pela vitória da vida sobre a morte. Tua semente suscita os Elohim para a espera risonha de Vênus, mãe do amor. De samarra, salpicada de esmeraldas, coroado de rosas e verbenas e inebriando de almíscar e açafrão, eu te invoco, ó Anael! À hora em que teu corpo planetário vem enlear com a sua beleza o Touro do Zodíaco!
  O violento êxtase do amor transporta a alma, a vida para a morte. Possuir um ideal é modificar a forma de sua vida profundamente como pela morte. O êxtase do amor tu o podes verter do corpo que tens nas mãos.
  A amante que me foi destinada antes de vir à Terra, a metade perdida do andrógino que fui, tu ma enviarás para os meus beijos.
  Impede, peço-te, que as Sibilas Lilith e Nahemah a retenham prisioneira na noite ignota. Põe na matriz da mulher amada a vibração do amor que se vai perpetuando através dos Elohim até ao coração do próprio Deus! E neutraliza, com teu hálito balsâmico, os malefícios do demônio Anteros ou Kermel, que se inflama de ciúmes ao ver os pares felizes!

  VIII.  ELOHIM TSEBAOTH! 

  Sobre a coluna esquerda, tu te eriges em um ninho de glória e daqui teus servidores, os filhos dos deuses, saem para o ágil planeta de Mercúrio.
  Cinge-me a fronte uma coroa de hidrargírio; e uma túnica vesti, malhada de cristal, de onde emergem nus os meus braços de operador. Em meio ao fumo do zimbro e de canela, estás tu, Michael, que aconselhas a Salomão, o rei do Mistério! Por ti eu quero a penetração dos segredos, quero fabricar a chave que força os serviços do Oculto.
  Tu não perturbarás, Taphthartharat, o bom trabalhador entregue à sua obra.

  IX. SHADAI! 

  Teus pés se apoiam sobre o Fundamento, e teus dedos fazem sinais aos ministros do Fogo que seguem o curso da luta em torno do crescente de prata fina, vestido da branca dalmática, ornada de estrelas, de argolinhas e safiras.
  Eu queimo a mirra, proferindo palavras que forçam as vontades. Tu te inclinas para mim, ó Gabriel! Como Artemisa triforme ao apelo de Endimião. Alma da Lua, teu olhar protege as crianças e derrama-lhes no peito predestinado o Fogo Sagrado do gênio. A tua expiração nos dá crescimento; tua aspiração, perecimento; o odor do teu hálito, através das correntes áuricas, atrai o espírito dos mortos que amamos, a imaginação dos poetas e das mulheres.
  Espelho que reflete sobre nossas frontes os raios vindos de todos os planos do abismo, escolhe com amor aqueles que hás de projetar sobre meus flancos. Ante o encantamento prolongado nas ondas espirituais, depõe, eu te ordeno, a tua indiferença da frequente neutralidade, a fim de que eu possa lançar o olhar além dos teus domínios.
  E quando eu receber o beijo da morte, não rolarei para os tormentos astrais, presa das infernais servas de Hasmodat, as Lemúrias e as Larvas.

  X. ADONAI MELECH! 

  Tu realizaste o sonho insondável da imensa face que o olho não viu! Coroado o longo Macrosprósopo, o puseste no Reino das formas que empunha o azorrague do Futuro Perpétuo. Grande Arquiteto, venerado dos Maçons, tu construíste o teu Templo. Feita a sua obra, o Ser pode mirar-se no símbolo que manifesta suas virtualidades.
  A sombra tem um corpo. O Grande Pã é vivo. Ao seu mando, as Inteligências de glórias oferecem aos homens o vinho do Conhecimento da Gnose Integral de que só podem beber os fortes e audaciosos.
  Eu sei que o sabor dele é amargo e mortal! Mas posso chegar o copo aos meus lábios, por que no subterrâneo de Eleusis eu comi o tambor e bebi o címbalo.
[Cruz de Caravaca - Ed. Pensamento]

Rayom Ra
        http://arcadeouro.blogspot.com.br



Nenhum comentário:

Postar um comentário