terça-feira, 7 de abril de 2015

Invocação Cabalística


                                             De Rabi Salomão, filho de Babirol

  Vós sois um, começo de todos os números e o fundamento de todos os edifícios. Vós sois um, e, no segredo da vossa unidade, os homens mais sábios se perdem porque não a conhecem. Vós sois um, e a vossa unidade nunca diminui, nunca aumenta, nem sofre alteração alguma. Vós sois um, não como um em cálculo, porque a vossa unidade não admite multiplicação, nem mudança, nem forma. Vós sois um, ao qual nenhuma de minhas ideias pode fixar um limite e dar uma definição; é por isso que vigiarei minha conduta, preservando-me de pecar pela minha língua. Vós sois um, enfim, cuja excelência é tão elevada, que de modo algum pode cair, e não como este um, que pode cessar de existir.

  Vós sois existente; contudo, o entendimento e a vista dos mortais não podem alcançar vossa existência, nem por em vós o onde, o como e o porquê. Vós sois existente, mas em vós mesmo, porque nenhum ser pode existir convosco. Vós sois existente desde antes do tempo e do espaço. Vós sois existente, e enfim, vossa existência é tão oculta e tão profunda que ninguém pode penetrar e descobrir o segredo dela.

  Vós sois vivente, mas não desde um tempo conhecido e fixo; vós sois vivente, mas não por um espírito ou por uma alma; pois sois a alma de todas as almas. Vós sois vivente, mas não como as vidas dos mortais, que são comparadas a um sopro e cujo fim será o alimento dos vermes. Vós sois vivente, e aquele que puder alcançar os vossos mistérios gozará eterna delícias e viverá perpetuamente.

  Vós sois grande, e ao pé de vossa grandeza todas as grandezas se dobram, e tudo o que há de mais excelente se torna defeituoso. Vós sois grande, acima de todas as imaginações e, vos elevais acima de todas as hierarquias celestes.  Vós sois grande, acima de todas as grandezas, e sois exaltado acima de todos os louvores.

  Vós sois forte, e nenhuma das vossas criaturas poderá ser comparada à vossa Entidade. Vós sois forte, e é a vós que pertence esta força invencível que nunca muda nem se altera. Vós sois forte, e pela vossa magnanimidade perdoais no momento da vossa mais ardente cólera, e vos mostrais paciente para com os pecadores. Vós sois forte, e as vossas misericórdias, que existiram em todos os tempos, se estendem sobre todas as vossas criaturas.

  Vós sois a luz eterna, que as almas puras verão e que as nuvens dos pecados ocultará aos olhos dos pecadores. Vós sois a luz que está oculta neste mundo e visível no outro, onde a glória do Senhor se mostra.

  Vós sois soberano, e os olhos do entendimento que vos desejam ver ficam admirados de só poderem fazê-lo em parte e nunca totalmente.

  Vós sois o Deus dos deuses, o atestam todas as vossas criaturas; e, em honra deste grande nome, todos a vós devem dar o seu culto. Vós sois Deus, e todas as criaturas são vossos servos e adoradores; a vossa glória não é diminuída, embora adorem outros, porque a sua intenção é de se dirigirem a vós.

  São como os cegos que têm de seguir o grande caminho e se desviam; um cai num poço, outro num buraco; em geral, todos julgam ter alcançado seus desejos e fatigam-se em vão. Mas os vossos servos são clarividentes, e andam por um caminho certo de que nunca se desviam, nem à direita nem à esquerda, até entrarem no átrio do palácio do rei.

  Vós sois Deus, que sustentais por vossa divindade, todos os seres, e que assistis por vossa unidade a todas as criaturas. Vós sois Deus, e não há diferença entre vossa divindade, vossa unidade, vossa eternidade e vossa existência; porque é um mesmo mistério; e embora variem, todos chegam ao mesmo fim.

  Vós sois sábio e o ancião dos anciãos, e a ciência sempre se nutriu junto a vós. Vós sois sábio e não aprendeste a ciência de ninguém, nem a adquiristes senão de vós mesmo. Vós sois sábio e, como um operário arquiteto, reservastes da vossa ciência uma divina vontade, para num tempo determinado atrair do nada o ser, da mesma forma que a luz que sai dos olhos é atraída pelo seu próprio centro, sem nenhum instrumento ou objeto. Esta divina vontade cavou, traçou, purificou e fundiu; ela ordenou ao nada que se abrisse, ao ser que se aprofundasse e ao mundo que se estendesse. Ele mediu os céus a palmos: com o seu poder reuniu o pavilhão das esferas, com os cordões do seu poder fechou as cortinas das criaturas do universo, e tocando, com sua força, as extremidades da cortina da criação, reuniu a parte superior à inferior.

  Fonte: Cruz de Caravaca, Editora Pensamento

                                                                  Rayom Ra

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